terça-feira, 10 de março de 2009

Polêmica e comoção


Gente me perdoe se o assunto desagrada. Mas não posso deixar de comentar o absurdo da afirmação do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, feita na última sexta-feira. Ele avalia que o padrasto, suspeito de violentar a menina de 9 anos, não está incluído na lista de excomungados. "Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente". Na quarta-feira, o arcebispo excomungou a mãe e a equipe médica envolvida na interrupção da gravidez da garota. Dá para entender uma atitude desta? Não estou fazendo apologia ao aborto não. Sou contra a prática. Mas em um caso destes? Por favor...
Sim, se considerarmos que o catolicismo, desde o século IV, condena o aborto em qualquer estágio e em qualquer circunstância, permanecendo até hoje como opinião e posição oficial da igreja católica.
A igreja católica considera que a alma é infundida no novo ser no momento da fecundação; assim, proíbe o aborto em qualquer fase, já que a alma passa a pertencer ao novo ser no preciso momento do encontro do óvulo com o espermatozóide. A punição que a igreja católica dá a quem faz o aborto é a excomunhão.
Portanto, é medieval. Na minha modesta opinião, a Igreja Católica deveria rever seus conceitos, pois no mundo que vivemos, não dá pra ignorar a realidade de sexo antes do casamento, o perigo de doenças sexualmente transmissíveis, pedofilia, etc.
Seria ótimo se todos só nos relacionássemos após o casamento, que não houvesse a violência sexual. Mas não é a realidade. Inclusive a própria igreja sofre com escândalos no seu seio, por conta da proibição de casamento aos seus padres. Portanto a mesma deveria sofrer uma ampla reformulação, como acontece em outras religiões, que se adequaram a realidade deste mundo e parar de pregar o que não pratica.
A gravidez foi descoberta no último dia 25 de fevereiro, quando a menina de nove anos se queixou de tonturas e foi levada pela mãe para a Casa de Saúde São José. Exames constataram que a criança já estava na 16ª semana de gestação e que a gravidez era de alto risco por causa da idade.
Segundo a polícia, a criança afirmou que os abusos começaram quando ela tinha seis anos de idade, e que o padrasto, de 23 anos, a ameaçava de morte caso contasse para alguém. Ele foi preso quando se preparava para fugir para a Bahia. Em seu depoimento, o padrasto teria confessado que também abusava da enteada mais velha, de 14 anos, portadora de deficiência física.
O Ministério Público, a Secretaria Estadual de Políticas para a Mulher e as ONGs Curumim e SOS Corpo acompanham o caso e irão oferecer recursos e tratamento psicológico para as vítimas.
ExcomunhãoNa quarta-feira, o arcebispo excomungou os médicos envolvidos no aborto. “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor”, disse o bispo.
De acordo com os médicos, a menina, que tem 1,33m e pesa 36kg, não apresentava estrutura física que sustentasse uma gravidez. Segundo eles, a paciente corria risco de vida caso a gestação continuasse. Além disso, a legislação brasileira permite o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestão.“A excomunhão do arcebispo se torna irrelevante para todas nós que ajudamos no caso. É irrelevante a posição do arcebispo. Essa é uma questão que não perpassa pela religião. Os médicos agiram conforme a lei. O Estado brasileiro tem que ser respeitado. A ação do Estado não pode ser regida pela ação religiosa”, analisou Carla Batista, da ONG SOS Corpo.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, classificou de "radical" e "inadequada" a decisão da Igreja Católica de excomungar os envolvidos no aborto. Para Temporão, o ato de excomungar os envolvidos no aborto é um contrassenso diante do que aconteceu à criança.
“Fiquei chocado com os dois fatos: com o que aconteceu com a menina e com a posição desse religioso que, equivocadamente, ao dizer que defende uma vida, coloca em risco outra tão importante”. A intenção da equipe médica do Cisam é prestar atendimento psicológico e orientação sobre planejamento familiar. De acordo com Cabral, contato entre os médicos e a família da menina será feito via Ministério Público. O médico informou que a menina deixou o hospital acompanhada pela mãe e por representantes do Ministério Público de Pernambuco e da Secretaria Executiva da Mulher
Violência
A gravidez da criança foi descoberta na semana passada, depois que ela reclamou de dores e foi levada a uma unidade de saúde. Os médicos classificaram a gestação como de alto risco, pela idade e por ser de gêmeos. Segundo os médicos, a mãe pediu para que o aborto fosse realizado.
O padrasto da menina foi preso, suspeito de ter abusado da garota e ser pai dos bebês que ela esperava. De acordo com a polícia, a menina sofria violência sexual desde os 6 anos.
O caso da menina de 9 anos que interrompeu a gravidez de gêmeos causou comoção e revolta. A repercussão foi ainda maior pela reação da Igreja Católica ao aborto provocado pelos médicos.
A equipe que participou do aborto está recebendo e-mails de médicos do país inteiro. Foram mais de 500 mensagens de apoio até a manhã desta sexta. Para os especialistas, não havia dúvida sobre a necessidade de interromper a gravidez e, sobre essa conduta, não cabe intervenção da Igreja.