sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Noite



Dentro da noite,
a turbulência.
Maré, maremoto, maresia,
ausência.
Dentro da noite,
a angústia.
Só, volvendo, solidão.
Astúcia.
Dentro da noite,
a memória.
Aceno, assédio, assobio.
História.
Dentro da noite,
a lágrima.
Amarga, amena, apenas
Lástima.
Dentro da noite,
quietude
impõe, invade, instala
Virtude.
Dentro da noite,
A dor
desmorona, desconcerta, desfalece
Horror.
Dentro da noite,
a essência.
Pueril, pasma, pávida
consciência.
Poesia selecionada e publicada no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, promovida pela Secretaria Do Estado De Curitiba - PR

Sua ausência



A sua ausência
tem qualquer coisa
que sufoca
como o seu silêncio de mármore
que penetra a alma
e tira a calma
A sua ausência
tem qualquer coisa que arde
Como o seu desejo da carne
Que queima a pele
e aquieta o coração
A sua ausência
tem qualquer coisa
que dói, machuca
Como ferida aberta
Como o seu olhar de águia
Que tudo desnuda
e depois, deserta.

Jaula

Na jaula cotidiana,
minha mente insana
abriga leoa e serpente.

No meu peito, répteis e bichos
querem se libertar.
Mas não tem jeito.

De repente, tréguas.
Imaginação corre solta.
Viro borboleta, águia,
pensamento voa léguas.

Olhos da minha alma
transcendem as grades.
Vão de encontro ao belo,
ao simples, às artes.

Na jaula cotidiana,
mente e corpo urgem.
E meu peito arde.
Juntos, interagem.

E, em meio à realidade,
meu coração de criança
doma bichos selvagens
e dá lugar à esperança.

Crença



Agora não interessa

Não tenho mais pressa

Compreendi que tudo passa

Só esperança não se perde

Agora não precisa

Não sigo mais regras

Entendi que a alama

- também ela - é cega

O que faz a diferença

É a crença

Que se sustenta

De boas intenções

De verdades sórdidas

Atitudes mórbidas

E ilusões

Saudade





Saudade é um chamado doído
De tempo ido.
É um pedaço de mim
Que ficou comigo.
Um abraço caloroso
Um sorriso transparente
Um gesto interrompido
É um sentimento assim:
Bom e doloroso.
A lembrança de um amigo
Ou de um dia colorido
Um calor fervoroso
Às vezes um medo pavoroso
Do que está por vir.
Mexe com a gente.
Deixa de ter sentido
E, ao mesmo tempo,
Faz todo sentido do mundo.
Um sentimento profundo
Uma dor e um prazer lá no fundo.
Certeza de algo perdido
Tesouro escondido
Que transmuta mundo,
Trazendo alegria ou tristeza
Feiúra ou beleza...
Mas o que importa,
O que realmente importa
É que quando ela bate à porta
Eu, pelo menos,
Tenho certeza de ter vivido.
Boa ou ruim, triste ou alegre,
É bom saber
Que sou capaz da entrega.
De sorrir e de chorar
De ser amada e de amar.
E de concluir que o tempo
Acumula vivências,
Traz experiências,
E sem qualquer intento
É capaz de passar,
Mostrando que nada morreu.
Que tudo e todos, sou apenas
Eu.

Tempo

Às vezes penso que o tempo é como a água: escoa. Ultrapassa obstáculos, infiltra-se e flui, independente de qualquer alteração, resistência da parte de qualquer ser humano. Alguns tentam disfarcá-lo. E atualmente a tecnologia contribui muito para este disfarce. Outros tentam ignorá-lo e acabam por criar problemas que, na maioria das vezes, seriam desnecessários caso fosse usado o bom senso. Uns tentam reinventá-lo, como se isto fosse possível. Terceiros procuram a todo custo tentar entendê-lo.

Eu apenas o observo. E percebo as mudanças que ele proporciona. Procuro tirar desta observação lições de vida. A grande maioria de nós não o aproveita por sequer nos darmos conta dele. Outros fazem do tempo um farol que pode levar ao aprendizado maior, à tolerância, à persistência sadia, à sabedoria e, consequentemente, à serenidade após perceber que há coisas que não se pode deter, como a água e o tempo. ´

O ciclo é constante. O que ontem foi, hoje não é mais. O que hoje é, amanhã deixará de ser. Idosos é que o digam. E o dizem não apenas com palavras, mas com gestos resultantes da experiência, da vivência. Descobriram, talvez a duras penas, que a vida é dinâmica, é transitoriedade, é incerteza. Mas também é esperança. Esperança que dá coragem. Coragem que leva à ação. Ação que pode mudar situações pré-estabelecidas e até mesmo outras vidas.

Outras vidas...será que teremos mais que uma? Será que teremos uma segunda chance? Uma nova oportunidade para ao menos tentar consertar os erros, ter a humildade de pedir desculpas, dar aquele abraço que teria com certeza a mesma importância que um lindo e caro presente para alguém...

Disto não sei. Mas sei que enquanto vivermos, sempre é tempo. Tempo de amar, de sorrir, de ter esperança, de lutar, de acreditar. E eu acredito em mim. Acredito que como eu, existam outras pessoas confiantes que o tempo pode não apagar tudo, mas com certeza nos dá a oportunidade de repensar, recriar, lutar. E assim, só assim, possamos contribuir de alguma forma, mesmo que quase invisível, para um mundo melhor, para uma humanidade mais generosa, melhor. Que saiba amar e cuidar uns dos outros e também do planeta, que é a casa de todos nós.

Que possamos sim, estarmos "antenados", ligados às rápidas mudanças dos dias atuais, mas que também possamos sempre aprender com ele no sentido de que é necessário, e urgente, que saibamos conservar valores e amizades.

Por hoje, este é o recado.