domingo, 1 de março de 2009

O choro de uma mãe


Recebi um e-mail de Cleide, moradora de um bairro da cidade, sugerindo que escrevesse um texto sobre atitudes covardes. E explicou-me por quê: dia 20 de fevereiro, um desconhecido, dirigindo em alta velocidade, atropelou sua filha de 13 anos praticamente na calçada e fugiu sem prestar socorro.

A menina sofreu diversas fraturas: pernas, braços e inclusive, no crânio. Passou por cirurgias e até o momento que Cleide enviou-me o e-mail, a menina permanecia na UTI - Unidade de Terapia Intensiva. Ela e o marido, contou-me, estão inconformados, indignados e passam os dias praticamente sedados, preocupados que estão com possíveis sequelas ou temendo que a menina não resista e os deixe para sempre.

Cleide, o que tenho a lhe dizer é que, na minha modesta opinião, atropelar alguém - seja criança, adolescente ou idoso - e não prestar socorro não é apenas uma atitude covarde. É irresponsabilidade, insensibilidade. É mais. É crime que deve ser punido. Está certo que você me conta que a velocidade com ele dirigia o veículo era tão grande que ninguém conseguiu anotar a placa. Mas um Ser Superior, misericordioso e justo com certeza tem não só a placa mas o nome desta pessoa que, numa atitude irresponsável, lhe causa tanta dor! É a Ele que deve se apegar, recorrer, pedir, suplicar. Ele é o Senhor Tempo e da Vida. E com certeza há de dar forças à sua filha para que ela se supere e volte a encantar os dias de vocês. Conte também com o auxílio, a presença, o apoio e o consolo dos amigos. Tenho certeza de que deve ter muitos. Não sinta vergonha de expor a sua dor. Compartilhe-a. Pois uma dor quando compartilhada com pessoas queridas torna-se menos pesada. E não abandone a esperança. Mantenha-a viva!

Para mim, Cleide, existem diversos tipos de covardia:

Magoar, ferir, agredir alguém física, moral ou psicologicamente sem dar ao outro a chance de se defender é covardia.

Despertar o amor no coração de alguém para depois desprezá-lo é covardia.

(Saint-Exupery já dizia: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".)

Alguém dissimulado, que finge ser o que não é, pode acreditar, é covardia.

Geralmente pessoas assim têm medo de enfrentar-se, conhecer a si mesmo e descobrir que, neste mundo, ninguém é melhor ou mais que ninguém. Somos todos iguais. E teremos, ao final, o mesmo destino: o pó.

Desculpa por fugir um pouco do assunto - o que também é uma covardia - mas, creia-me, sinto a sua dor, o seu desconsolo, a sua indignação, o seu medo, a sua espera de que o pesadelo acabe. E ele vai acabar. Tenho certeza que, além das pessoas que você ama e que te rodeiam, leitores deste blog, que têm se mostrado pessoas generosas, sensíveis, altruístas, manifestarão a você palavras que hão de lhe fortalecer, motivar a vencer esses momentos, esses dias dolorosos e difíceis. Talvez não seriam estas as palavras que gostaria de ler, mas são as que vieram do meu âmago, do meu coração, da minha alma, que neste momento, de alguma forma, está ligada à tua.